Pensamentos de um ilhéu escritos de 2003 a 2010.
Terça-feira, 30 de Março de 2004
A soberania e as pescas
O líder do PP garantiu este fim-de-semana aos dirigentes populares e social-democratas açorianos que se a "Coligação Açores" vencer as eleições regionais de Outubro o Governo central continuará fiel ao compromisso de uma "soberania sempre ao serviço da autonomia".
Ao principio não acreditava no que lia, como é possível um Ministro vir preferir tal conceito, a soberania do estado não está ao serviço da campanha eleitoral dos partidos da coligação actualmente no poder em Lisboa e/ou da coligação Açores, mas sim ao serviço dos superiores interesses de Portugal e dos Açores.
A direita portuguesa, sempre centralista e muito pouco autonômica, pode ser retratada nesta infeliz tirada do ministro Paulo Portas na sua visita fugaz aos Açores para mostrar um aviocar preparado para a fiscalização das pescas nos Açores, Madeira e continente português, tanto mar para apenas um pequeno avião, mas antes um do que nada.
Na enorme zona económica exclusiva dos Açores já foram localizadas mas de 100 embarcações espanholas, sem as respectivas autorizações, a pescarem nas águas até as 100 milhas.
O problema parece apenas estar na predisposição de actuar em defesa dos legítimos interesses dos Açores e de Portugal.
Domingo, 28 de Março de 2004
O dialogo como alternativa
«É preciso dialogar com os terroristas e conhecer as suas razões». (Mário Soares)
Todos os quadrantes políticos consideraram esta frase como o fim do mundo, a rendição perante o absurdo, o fim da civilização, mas será?
Tal como uma doença para o tratamento ser eficaz temos de conhecer a sua origem, o meio onde se propaga e os sintomas que produz, considerar não ser necessário qualquer conhecimento e matar todos os hospedeiros do mal, será possível ?, e o mal desaparecerá?
As palavras de Mário Soares, um dos últimos grandes políticos do século XX da Europa traduzem sabedoria e indicam-nos que a luta contra o terrorismo não é apenas a das armas, poderá haver outras e só esta indicação de novos caminhos mesmo que utópicos neste momento, considero muito positivo, não só para o sentimento de segurança de todos nós, com para a paz.
Sábado, 27 de Março de 2004
Mais de 3000 pelo Fayal
Este blog foi publicado pela primeira vez em 22 Julho de 2003 - o ser histórico anteriormente publicado no blogger, encontra-se no arquivo de Janeiro 2004 desta plataforma, e o contador de visitas foi nesse dia colocado a zeros.
Hoje já passaram pelo Fayal mais de 3 mil visitantes o que dá uma média diária de 18, estes números são para mim um motivo de satisfação.
O Fayal continuará a dar as boas vindas a todos, e tudo farei para as minhas palavras e apenas elas, transmitam ideias e esperança tão necessárias nestes nossos dias, mas sempre no mais profundo respeito pela diferença.
Quinta-feira, 25 de Março de 2004
A insularidade no mau tempo
Desde ontem o mau tempo, muito vento e mar alteroso tem fustigado as ilhas. Não é um facto invulgar, por vezes surgem temporais idênticos no inicio da primavera.
O "cruzeiro do canal" na sua viagem das 17.00 mais parecia um submarino, mas lá foi valentemente a caminho do Pico. Os aviões por cá não passaram, pois a rajada de vento mais forte foi registada com 110 Km/h.
As ilhas ficaram hoje mais isoladas, amanhã tudo voltará às interligações normais e a região de novo se unirá na vida actual das suas populações, já bastou durante séculos as mesmas terem de viver com este isolamento interno durante todo o inverno.
Segunda-feira, 22 de Março de 2004
Israel de novo
Hoje Israel eliminou o chefe do Hamas, num acto de terrorismo igual aos praticados por aquela organização palestina.
Choca-me este procedimento de olho por olho, onde nenhum dos contendores deixa de vingar um acto, e de vingança em vingança a paz fica sempre mais longe.
Como será possível alcançar-se a convivencia pacifica naquela região sagrada para três religiões, onde a única que tem apresentado hoje uma conduta condicente com a sua fé tem sido a Católica.
Se somos contra o terrorismo, não podemos pactuar com aquele que é feito por um Estado em nome seja do que principio ou justificação for.
Hoje foi mais um dia triste para a democracia e para a paz, especialmente em toda aquela zona tão sacrificada do mundo.
Sexta-feira, 19 de Março de 2004
Ao meu pai
Hoje escrevo para o meu pai, um velho homem de 84 anos que continua amando a vida e fazendo projectos para o futuro.
Ainda hoje lhe falei como faço sempre nos dias especiais.
Espero que a sua voz me acompanhe por mais alguns anos, pois sempre que a ouço ela me conduz ás minhas origens, ao meu crescimento, à nossa casa com a mãe, aos meus irmãos, enfim a todo um mundo de lembranças que não quero perder, para continuar a ser apenas o que sou.
Quinta-feira, 18 de Março de 2004
Ingenuidade... mas não tanta
A Al Qaeda anunciou no passado mês de Dezembro a sua intenção de atacar Espanha com «duas ou três explosões» com o objectivo de aumentar a pressão social contra o governo e conseguir a vitória eleitoral do PSOE e, por fim, obrigar Madrid a retirar as suas tropas do Iraque, segundo um documento da organização terrorista divulgado esta quarta-feira pela CNN in Diário Digital de 17/03/2004.
Perante semelhante texto (!!!) que apenas poderemos pensar ter sido escrito nos serviços secretos donde partiu a noticia, devemos ficar preocupados, ele vem-nos mostrar o perigo para as liberdades e para a vivência democrática quando em defesa dos nossos erros não assumidos, queremos continuar a impor as nossas verdades, não olhando a meios, mesmo condicionando a vontade manifestada em eleições livres noutros países democráticos.
Mais do que com as bombas da Al Qaeda, podemos estar a destruir o nosso destino comum com uma excessiva paranóia colectiva de segurança, destruidora dos princípios basilares da nossa própria civilização ocidental e sem eles os vencedores não somos nos.
Terça-feira, 16 de Março de 2004
A Cimeira dos Açores
Faz hoje um ano reuniu-se nas Lajes, Ilha Terceira, a Cimeira dos Açores que colocou Bush, Blair e Aznar, no caminho da guerra.
Lembrando as declarações da altura, custa a crer como uma decisão dramática como essa, já há muito tomada pelos Estados Unidos, pôde ser tomada na base de informações falsas e de opções unilaterais.
As imaginárias armas de destruição maciça, a chantagem sobre o Conselho de Segurança das Nações Unidas, a desautorização das equipas de inspecção das Nações Unidas em Bagdade, e o caminhar para a guerra sem o aval da ONU, foi uma decisão tomada nos Açores que nos acompanhará na história.
Passado um ano, a invasão do Iraque foi um desastre quanto aos seus objectivos. As armas de destruição maciça não existiam, tal como as bases e ligações terroristas. A insegurança e o terrorismo instalaram-se no território com a ocupação, apesar da presença das forças da coligação.
Contrariamente ao anunciado na cimeira dos Açores, depois da guerra todo o ocidente ficou fragilizado na sua credibilidade e na sua segurança e muito mais exposto do que antes a ataques terroristas.
Os custos materiais e humanos da guerra anunciada nos Açores e da ocupação são incontabilizáveis e continuam.
Domingo, 14 de Março de 2004
O cambio espanhol
As eleições gerais em Espanha, terão sido para muitas pessoas, uma verdadeira surpresa, pela alternância que proporcionaram, depois dos atentados de 11 de Março.
Como observador atento aos problemas existentes na nossa sociedade ocidental e ao comportamento dos seus povos, julgo que estaremos muito próximo de novas surpresas em outros países, onde a problemática de fundo foi e é a mesma.
Quinta-feira, 11 de Março de 2004
De novo o terror
Desta vez em Espanha o terrorismo voltou a matar inocentes, pessoas que iam para os seus trabalhos, escolhidos ao acaso para objectivos que não se conhecem ainda, em numero que neste momento se aproxima dos 200.
Muito se tem escrito e dito sobre esta problemática, mas continuo a ter muita dificuldade em compreender o que levará franjas da sociedade a matarem os seus semelhantes apenas por objectivos políticos particulares?
Como já anteriormente afirmei, para se curar a sociedade desta chaga dos nossos tempos, temos de agir sem emoções e compreender sociologicamente o fenómeno e psicologicamente os seus intervenientes, só assim poderemos extirpar o mal, pois como na nossa vida, há sempre causas para as nossas doenças e só conhecendo-as podemos aspirar à cura.
Perante a dor deste acto terrorista em Espanha, os meus respeitos para as famílias das vítimas e mais do que palavras de circunstancia, por todos hoje ditas, saibamos usar a inteligência para a descoberta da cura desta chaga social, ainda hoje sem esperança de se alcançar o seu fim não só em Espanha como no mundo.
Segunda-feira, 8 de Março de 2004
Frente a Frente
A Antena 1 Açores transmite ao sábado das 12.00 as 13.00 o programa de informação Frente a Frente com a participação dos políticos regionais Francisco Coelho do PS, Reis Leite pelo PSD, Melo Alves pelo PP e António Fonseca pela CDU.
Este programa é uma pérola mesmo entre todos os programas similares nacionais, não só pela qualidade dos seus participantes mas principalmente pelo modo da participação, em vez da confrontação simultânea, onde ninguém se ouve e a vontade do ouvinte é desligar ou mudar de estação, é uma hora de satisfação onde a convivência democrática é assumida por todos, e o respeito pela diferença é aceite normalmente.
Toda a comunicação social deveria ter como modelo para programas deste tipo este Frente a Frente e os políticos deveriam aprender com estes açorianos a maneira de em publico se viver a democracia política, assim reabilitava-se a imagem de uns e outros, tanto gasta aos olhos dos portugueses e na maior parte das vezes com razão.
Sábado, 6 de Março de 2004
Processo Bolonha
Transcrevo o post de 03/03/2004 do blog "causa-nossa" de autoria do professor Vital Moreira por considerar que o ensino superior em Portugal deve ter a tendência do existente nos países com os quais temos um relacionamento populacional mais próximo e intenso sem as pretensões de maior qualidade, que não se vê ou viu na prática, mas de igualdade e pela necessidade de um debate aberto que possibilite um acorde de regime por ser um assunto estruturante para o futuro de Portugal:
A propósito do meu artigo publicado em 02/03/2004 no Publico sobre o chamado Processo de Bolonha, João Vasconcelos Costa no seu blog "professorices" e no mesmo dia, manifesta concordância com o sentido a adoptar na necessária revisão da arquitectura dos graus do ensino superior em Portugal. ( Fayal - A lêr o link para se compreender o ponto da situação do Processo Bolonha)
Na realidade, ele mesmo, na sua página pessoal na Internet, já tinha também manifestado inclinação a favor da fórmula de um primeiro grau de curta duração (três anos), seguido de um ciclo complementar de dois anos para obtenção do mestrado.
Ainda na mesma linha de raciocínio é de destacar igualmente uma tomada de posição recente do Prof. Mário Vieira de Carvalho, vice-reitor da Universidade Nova de Lisboa (mas expresssa naturalmente a título pessoal): «Entendo, pessoalmente (...), que o sistema 3+2 é a melhor opção estratégica para o país e que, tal como é tendência geral na Europa, devia ser adoptada desde já como objectivo a atingir até 2010 por todo o nosso sistema de ensino superior.»
Será que ainda se está a tempo de um debate esclarecedor sobre esta questão essencial para o futuro do ensino superior entre nós?
Quinta-feira, 4 de Março de 2004
Os agoirentos
Os Açores sempre desde a sua descoberta foram a região mais pobre do país, esse distanciamento ao desenvolvimento começou a ser encurtado com a autonomia Politico-administrativa instaurada com o 25 de Abril.
Nos últimos anos foi notório as mudanças na estratégia de desenvolvimento económico, acrescentado-se á agricultura o turismo como factor fundamental á diversificação económica e á criação de empregos.
O crescimento económico de uma região da União Europeia como a nossa não é feito pelos governos, mas sim pelo investimento dos privados e estes são, neste momento, o motor da nossa aproximação ao restante país, foi a sua atitude de confiança no futuro que fez de almofada de amortecimento à crise económica continental e à continuidade dos bons indicadores económicos e sociais açorianos.
Na economia de mercado o governo está reservado a ser regulador e não interventor.
A coligação de direita que pôs o país de tanga, nos Açores quer pôr os açorianos a pedir esmola. Esconjuremos estes corvos agoirentos.
Terça-feira, 2 de Março de 2004
A primeira autonomia
O dia 2 de Março transporta-nos para um passado de há 109 anos com a criação das Juntas Gerais, primeiros passos para a autonomia açoriana, naquele tempo apenas administrativa.
Neste dia devemos tambem ter presente aqueles que desfraldaram a bandeira autonômica tais como Aristides Moreira da Mota, MontAlverne Sequeira, José Maria Raposo do Amaral, José Bruno Carreiro, e tantos outros que lutaram por tão nobre coisa açoriana.
A Autonomia Politico-administrativa dos Açores é um processo político sempre inacabado, onde os retrocessos são possíveis, como já aconteceu nestes 109 anos, por isso tenho alguma preocupação na actual luta política regional.
Se olharmos para a recém criada coligação de direita esta por motivos, não sei se apenas eleitorais, louva tudo o que vem de Lisboa, o Governo da Republica, é de uma competência acima de qualquer reparo, chega-se ao cumulo de se convidar de novo os ministros do Governo da Republica para cerimónias publicas locais, em desfavor dos titulares dos órgãos políticos próprios, numa tentativa de por em causa o partido com funções de governo na Região.
Esquecemo-nos que historicamente a direita portuguesa, nunca foi descentralizadoura ou autonômica.
Tirando Mota Amaral, Carlos César e Berta Cabral a Região infelizmente não possui outros dirigentes com carisma e capacidade política para afirmarem uma autonomia política própria perante a República que honre a memória de Aristides Moreira da Mota.