Pensamentos de um ilhéu escritos de 2003 a 2010.
Domingo, 29 de Fevereiro de 2004
O 29 de Fevereiro
Desejo marcar com esperança este último dia de Fevereiro, pois ele só se repetirá daqui a 4 anos, por isso espero sinceramente que nessa altura, a nossa região não se tenha perdido por caminhos não conhecidos e mantenha a direcção do desenvolvimento, o nosso país já tenha abandonado o défice, o desemprego esteja em níveis aceites por todos e o mundo apenas se lembre das guerras preventivas, dos ataques terroristas e viva um momento de maior concórdia.
Tudo isto é possível, basta querermos e sabermos distinguir entre um populismo em que tudo é facilmente possível e a realidade em que é necessário a nossa intervenção e o nosso trabalho para se alcançarem metas e pouco a pouco se ir construindo o futuro.
Sábado, 28 de Fevereiro de 2004
É este o nosso mundo
Fico verdadeiramente preocupado com algumas noticias do nosso mundo em que nos dão uma fotografia de arrogância e prepotência que pensava estarem arrumadas no armário das velharias.
A noticia das escutas telefónicas ao Secretário Geral das Nações Unidas, ao chefe da missão de inspetores da ONU no Iraque sobre armas de destruição maciças e a outros responsáveis de missões relacionadas com o Iraque, feitas pela Inglaterra e pelos Estados Unidos são um verdadeiro atentado não só as Nações Unidas, à democracia diplomática daquela organização mundial, como a sua própria existência.
Outra noticia que não posso deixar de referenciar é a relativa ao relatório sobre violações dos direitos humanos feita pela Secretaria de Estado dos EUA . É verdadeiramente chocante quando um pais que mantém centenas de pessoas presas sem qualquer culpa formada, sem direito a defesa ou a outros quaisquer reconhecidos internacionalmente, numa ilha a milhares de Kms onde viviam, em condições, para nos ocidentais, vergonhosas, que denunciou o tratado contra a tortura, que mantém a pena de morte, que invadiu um pais soberano, o Iraque, alegando motivos que nunca provou existirem e mantém lá presos milhares de pessoas também sem destino, se arrogue em denunciador das infracções aos direitos humanos por todo o mundo.
Realmente estamos a viver uma época onde a falta de lideres fortes e o respeito por políticas multilaterais anteriormente aceites por todos, nos está a conduzir a pontos de rotura preocuopantes para o nosso futuro colectivo.
Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2004
Irresponsabilidades
Nas questões da autonomia, uma área que nunca foi considerada como possível de ser transferida para a Região foi a da defesa e bem. Vem isto a propósito da guerra de alecrim que se instalou entre o Governo Regional e o Nacional relativo à fiscalização da nossa zona económica exclusiva e às traineiras espanholas.
Cabe pelo Estatuto Poíitico e Administrativo da Região ao Governo Regional defender os interesses açorianos, dentro dos princípios legais e constitucionais, neste capitulo o actual GRA têm-no feito com firmeza e este caso agora dos espanhóis é prova disso.
Agora vir um ministro afirmar que deve ser a Região a apresentar um plano de fiscalização para a zona económica exclusiva, facto que nunca terá passado pela cabeça de nenhum responsável militar pela defesa, que o caso das traineiras e a defesa dos legítimos interesses açorianos é já campanha eleitoral, como também o silêncio do Ministério da Defesa neste assunto, tudo isto deverá preocupar os açorianos, com eleições dentro de meses e com a mesma coligação a concorrer na Região.
Domingo, 22 de Fevereiro de 2004
Ainda mais carnaval
Reina pelo ocidente e oriente uma catadupa de escândalos relativos a corrupção, em empresas nacionais, multinacionais, políticos, no desporto, enfim por toda a sociedade.
Mas o que motivou todo este fenómeno incontrolavel e cujas dimensões ninguém conhece?
A ideia do lucro, não por ele próprio, mas por se desejar sempre mais, a caminho do lucro máximo, conduz nas empresas, a engenharias económicas onde a verdade é quase sempre tratada, as SAD vão pelo mesmo caminho na busca de títulos e de jogadores cada vez mais caros, porque sem eles não há títulos e sem estes não há investidores, os políticos querem dar resposta às promessas eleitorais feitas e completamente irrealistas e ao cumprimento de défices e lá vem a reengenharia financeira dar uma mão.
Há tempos quando do lançamento do livro de uma nossa juiz muito conhecida e que esteve nesta área voltou-se a falar nestes assuntos, mas todos tem medo de um dia se começar a desandar o novelo, porque todos sabem como se começa, mas ninguém nos poderá dizer onde acabará e quem ficará de fora.
Vem estas divagações por motivo de estar em fase de instrução um caso de corrupção mediático e ter assistido como os restantes portugueses á novela da libertação deliberada por um tribunal superior, seguida, segundos depois, de prisão decretada por um juiz de instrução e tudo isto sobre o mesmo processo e ao mesmo arguido. Foi outro momento muito triste da nossa justiça, só aceitável pela época carnavalesca em que vivemos, onde julgamos que o Carnaval tem de ser igual ao brasileiro não importando que eles estão no pino do Verão e nos no meio de Inverno.
Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2004
Carnaval
Estamos chegando no calendário ao carnaval, período em que por tradição esconjuramos os rigores do inverno e alegremente nos preparamos para o bom tempo.
Nos Açores não é possível falar de carnaval sem nos referirmos ás danças e bailinhos na Terceira, manifestação de teatro de rua única, onde a critica a alegria ou os temas mais sérios são ditos, cantados e dançados segundo uma estrutura que se tem mantido ao longo dos anos, apesar de alterações apenas conjunturais, mas uma das coisas que mais admiro neste período único na Terceira é a participação de um povo que nos salões por todo a ilha ouve, vibra e ri com as diferentes actuações de dezenas de grupos, ao longo dos três dias de carnaval, sem olhar a horas ou ao cansaço.
Nas outras ilhas o carnaval passa-se nas sociedades e clubes com bailes e fantasias, ao contrário da Terceira a cultura popular anda afastada da festa, porque o pecado morou ao lado durante muitos séculos.
Quarta-feira, 18 de Fevereiro de 2004
As visitas do GRA
O Governo Regional dos Açores, em cumprimento de uma determinação estatutária, visita anualmente todas as ilhas dos Açores.
Este procedimento até se apresenta positivo, pois permite um presença pessoal dos governantes em todas as parcelas da Região, evitando-se assim o abandono das mais pequenas ou afastadas do centros do poder regional.
Mas o espectáculo que se assiste todos os anos e em todas as ilhas, neste Governo como nos anteriores é a apresentação pelas autoridades locais nos Concelhos de Ilha, de uma listagem de necessidades, aspirações e sonhos, tipo de plano para médio e longo prazo, apresentada sem uma definição clara de prioridades, como se os governantes possuíssem uma varinha de condão e o orçamento fosse infinito, numa manifesta falta de realismo político.
Perante a realidade a que assistimos anualmente ao longo das nove visitas às diferentes ilhas, talvez seja chegado o tempo de se repensar as mesmas em moldes diferentes, de modo a que a sua utilidade seja real para as populações, e não uma obrigação de quem detem o poder ou mais uma acção mediatica da oposição.
Emanuel Felix
Foi meu professor tinha eu 8 anos, era ele um jovem que tinha acabado a Magistério Primário, ao sábado de manhã lia-nos e explicava poesia, depois mandava-nos para casa. Nunca me esqueceu o seu comportamento para connosco, que me marcou positivamente.
Abandonou o ensino e dedicou-se á cultura como conservador de arte, mas a poesia nunca o deixou, foi uma referencia pela qualidade poética da sua escrita e será lembrado, estou certo, como um dos maiores poetas açorianos.
Tive conhecimento domingo 15/02/04 da sua morte, foi um amigo que me deixou, mas a sua lembrança permanecerá viva, como nos sábados de manhã ao ler-nos poesia, obrigado Emanuel Felix.
Boas Vindas
Ao iniciar hoje 18/02/2004, nesta plataforma o meu blog "Fayal- vivencias numa ilha", dou as boas-vindas a todos os visitantes e espero que nos encontremos muitas vezes neste espaço.
Para a consulta do histórico deste blog publicado anteriormente no Blogger ir ao arquivo "Janeiro 2004".